terça-feira, 2 de junho de 2009

EM CONVERSA COM...

Pedro Cardoso
ator

Representar é ...algo que faço mas que não sei explicar. Prefiro mostrar. Como algo que por ser inefável precisamos desenhar para torná-lo visível, eu prefiro mostrar-me a mim representando do que falar sobre.

Ser pai ...é tentar ser mãe e nunca conseguir.A grande família - é um programa cuja excelência da dramaturgia permite espelhar toda grande família brasileira.

Tv não tem orelha...no nosso tempo, a tecnologia dominante é pensada para emitir mensagens, e nunca para receber. Assim, as pessoas tornaram-se apenas ouvintes. É como se numa conversa, você tivesse que ficar o tempo todo calado, apenas ouvindo. Só que todo mundo tem algo que gostaria de dizer. Esse silêncio forçado é fonte de grande frustração e provoca na gente uma enorme solidão.

Portugal ...
no nosso tempo, a tecnologia dominante é pensada para emitir mensagens, e nunca para receber. Assim, as pessoas tornaram-se apenas ouvintes. É como se numa conversa, você tivesse que ficar o tempo todo calado, apenas ouvindo. Só que todo mundo tem algo que gostaria de dizer. Esse silêncio forçado é fonte de grande frustração e provoca na gente uma enorme solidão.

Viajar ...
é uma tendência inevitável. Um desejo enorme de ir, diametralmente oposto ao desejo de estabelecer-se. Ambos se completam numa dialéctica que nunca se equilibra. Sempre queremos viajar quando estamos estabelecidos e sempre queremos nos estabelecer quando estamos viajando. Viajar é um reacção contra a tristeza que nos chega não sabemos de aonde. Tristeza com a qual a gente não se conforma. Viajar é um ato de inconformidade. (Bom, pelo menos para mim.) É como se na novidade do lugar pudéssemos encontrar uma novidade sobre nós mesmos. Grandes Cidades. Li "A Cidade e as Serras" do vosso Eça e nunca mais esqueci. Choro só de citar o título do livro. Assim como viajar e ficar, esta é outra oposição que nos completa.

As pessoas preocupam-se muito...
com dinheiro. O que me parece natural e bom. O dinheiro é a medida da riqueza e a riqueza é, se pensarmos bem, a medida da nossa vitoria sobre a natureza. Aquecedor para derrotar o frio, comida congelada para fugir a escassez, carros para não depender das pernas etc. O que chamamos conforto é a nossa vitoria sobre as condições naturais. E o dinheiro compra o conforto. Almejar o conforto me parece legitimo e nobre. No entanto, a perversão que se pode fazer com o dinheiro, a escravidão, a injustiça... bem, isso é outro assunto. Ou melhor, é o mesmo assunto! Que do bem se faça o mal é uma tragédia nossa que ainda estamos por entender.

O Brasil ...
para mim é a escravidão. O Brasil se funda na escravidão. Há de se levantar dela. Ainda faz pouco mais de cem anos que a escravidão foi abolida, mas ainda há muita escravidão no Brasil. É preciso falar da escravidão, é preciso entender a permanência da escravidão para que o Brasil se liberte de sua fundação, e possa se re-fundar. O Brasil é um país ainda por ser conhecido. Somos um povo ainda por nos reconhecer-mos. Mas já somos alguém, ainda que nosso modo presente de ser, seja uma angustiante sensação de estarmos sempre por iniciar-mo-nos.Quando será o tempo do Brasil? Quantos ainda morrerão sob o peso da escravidão antes que o Brasil se cumpra? O que, no próprio âmago de nós mesmos, nos impede de sermos um país para todos aqueles que aqui nascem? Eu acredito que buscarmos entender a escravidão poderá nos daruma resposta para todas as perguntas.E, no entanto, há tanta alegria por aqui!!!

Um beijo no asfalto ...
é uma grande obra do nosso dramaturgo Nelson Rodrigues. Ainda hei de representá-la um dia. Sob suspeita de homossexualidade, um homem encontra a morte através das mãos daquele que mais o amava. Uma tragédia muito bem escrita, porque engraçada também. Há sempre humor no verdadeiramente trágico. (Pelo menos, é assim que eu vejo.)

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